Conforto e qualidade de vida são itens fundamentais independentemente da idade. Mas, é na chamada terceira idade que crescem os cuidados com o estilo de vida e a preocupação com o imóvel ideal para esta fase da vida.

Com o crescimento da expectativa de vida do brasileiro e os rearranjos familiares em constantes modificações, após anos intensos na vida pessoal e profissional, o idoso pretende usufruir desta nova etapa com independência e privacidade.

De acordo com recente estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a população idosa no Brasil vai triplicar nos próximos 40 anos – saltando de 19,6 milhões, em 2010, para 66,5 milhões de pessoas, em 2050.

E, amadurecendo um pensamento gerontológico, o mercado imobiliário cria estratégias para se adaptar e atender às necessidades evidentes e específicas deste nicho crescente.

“A expectativa de vida do brasileiro está cada vez maior, vamos viver mais e, nos padrões atuais de construção, iremos ter muitos problemas de mobilidade e conforto. Pensando nisso, implantamos, em 2017, a consciência gerontológica, que fará com que todos os nossos empreendimentos daqui para frente tenham os cuidados necessários para que possamos envelhecer com qualidade de vida, segurança, convivência e conforto”, explica Rafael Melo, sócio da Plataforma Engenharia.

Para criar um ambiente funcional e aconchegante, a construção civil já desenvolve empreendimentos com características peculiares destinadas aos idosos seja na unidade ou na área coletiva do condomínio. E a solução para prédios já construídos é adaptar a estrutura física e colaborar promoção de atividades necessárias ao grupo.

“Apesar de muitas vezes incentivarem isolamento e segregação, esses empreendimentos permitem que as pessoas mais velhas interajam com outras. É uma extensão do apartamento – que está cada vez menor. Nas áreas externas, dá para encontrar crianças, vizinhos e viver novas experiências que não seriam possíveis na rua”, disse à imprensa a arquiteta e professora de gerontologia da USP Maria Luisa Trindade Bestetti.

Integrar diferentes gerações em um mesmo espaço pode ser o maior desafio de um condomínio, mas alguns itens técnicos e uma dose de sensibilidade podem fazer toda a diferença.

Para a área comum do condomínio, muitas normas técnicas de acessibilidade previstas para deficientes físicos atendem às necessidades dos idosos.

“Começando um projeto do início e com disponibilidade para reformas, a escolha do piso é o primeiro passo, optando sempre por um tipo que seja antiderrapante em áreas molhadas e um acetinado nos demais ambientes, evitando que o idoso escorregue facilmente ao transitar. Esse cuidado é muito importante também nas áreas comuns (salão de festas, academia, etc.) já que o público é bem variado. Nos banheiros, as barras de apoio são itens essenciais para serem instaladas já no início, são facilmente encontradas no mercado e com bom custo”, explica a arquiteta Carol Barbosa, do escritório Traçado Arquitetura.

“O valor das unidades adaptadas é exatamente igual. Os custos extras são mínimos, como barras e algumas adaptações, e não estamos cobrando dos nossos clientes que escolherem essa opção”, informa Rafael Melo.

Adaptar

Outra opção para condomínio já prontos é a construção de um parquinho, uma espécie de academia ao ar livre com equipamentos específicos chumbados ao chão, iniciativa que incentiva a prática de atividade física e proporciona a interação entre os moradores.

Já na unidade construída, o morador deve optar por cadeiras e poltronas com braço para apoiar os movimentos de sentar e levantar e evitar acidente. Outras medidas práticas e simples são observar a altura de móveis, bancadas e armários para prevenir esforços desnecessários, nivelar pisos, utilizar portas maiores e barras de apoio, principalmente em locais escorregadios ou úmidos, como banheiro.

“Em relação à ambientação, aconselha-se diminuir um pouco a quantidades de móveis e outros itens como tapetes que possam ser empecilhos na hora de transitar. Sempre pensar em ambientes mais livres, de preferência com móveis de quinas arredondas e espaços mais fluídos”, orienta a arquiteta.

Algumas adaptações e reformas nem sempre cabem no orçamento. “O custo da mudança de piso, por exemplo, é alto. Por isso, um boa dica é colocar adesivos antiderrapantes em alguns pontos de transição, por exemplo, sala para cozinha e sala para varanda. No banheiro também pode ser usado, principalmente na saída do boxe. E cuidado com os tapetes antiderrapantes para áreas molhadas, pois eles podem deslocar e acabar ocasionando um grande problema”, alerta Carol Barbosa.

Os novos empreendimentos já disponibilizam uma construção diferenciada, pois, com o envelhecimento da população, boa parte da compra destes imóveis é feita por este nicho. Uma recente pesquisa feita pelo portal imobiliário Viva Real apontou que a expectativa do mercado imobiliário para 2017 é de que 32% dos consumidores estejam na faixa etária acima dos 50 anos.

Existem no mercado também condomínios que oferecem uma infraestrutura direcionada para idosos.  São residenciais ideais para pessoas na terceira idade que não querem abrir mão da privacidade e da possibilidade de conviver com pessoas da mesma idade.

Na prática, estes novos empreendimentos oferecem unidades habitacionais adaptadas às necessidades destas pessoas, atrelando a isso uma rotina de atividades e atendimentos específicos nas áreas comuns do condomínio. Mas ainda não é comum em todas as regiões do Brasil e os custos são variáveis.

Idade mínima

Na Paraíba, o governo estadual criou o condomínio Cidade Madura, um espaço inteiramente projetado para idosos com padrões e normas de acessibilidade. A ideia do programa é oferecer moradia a pessoas com mais de 60 anos que não podem adquirir a casa própria.

O condomínio disponibiliza área de lazer equipamentos de exercícios ao ar livre e pista de caminhada, posto de saúde, horta comunitária. Os idosos não pagam pela moradia, apenas as contas de água, energia e taxa de condomínio, esta última no valor de R$ 50,00. E as casas não viram herança, quando o morador morre ou desiste da habitação, outra pessoa ocupa a vaga.