A vida urbana não para. As pessoas fazem cada vez mais atividades simultaneamente e em um menor espaço de tempo. São as demandas do mercado. São as exigências de uma vida conectada.

Quantas vezes você não esteve em determinado lugar ou situação apenas de corpo presente? E seu pensamento acelerado já pensando no seguinte ou no próximo trabalho. Assim, nem sempre a atenção e foco estão direcionados àquela atividade.

Para tentar reverter este comportamento, a prática mindfulness ganhar força no Brasil e no mundo. O mindfulness, que na tradução livre significa atenção plena, tem origem Budista e é um exercício que busca interligar mente e corpo, raciocínio e prática.

“Mindfulness é um termo multifacetado. Eu posso olhá-lo de várias perspectivas e uma delas é o estado mental de mindfulness. O que seria isso? Uma maneira de estar onde eu estou atento e com uma atitude de abertura de frente à situação. Traduzindo, é um pouco contrário do que fazemos geralmente: às vezes, eu estou de corpo presente, mas a minha mente está viajando por aí”, explica o médico Marcelo Demarzo, que também é professor de Mindfulness.

E a tecnologia é um dos responsáveis pela diminuição da capacidade de atenção do ser humano. Uma pesquisa realizada Microsoft indica que a redução do tempo de concentração é resultado do impacto do celular e da era digital na vida humana.

De acordo com o estudo, a capacidade do ser humano caiu de 12 segundos em 2000 para apenas oito em 2013, mais curta que de peixinho dourado – o animal aquático, segundos cientistas, tem capacidade de atenção de nove segundos.

Mas treinar e melhorar o poder de atenção e concentração é um exercício que, a princípio, pode ser feito por qualquer pessoa. “Mas é preciso ter alguns cuidados. Principalmente para as pessoas que tenham alguma condição clínica, em especial doenças psiquiátricas. Se a pessoa estiver numa fase de quadro clínico mais agudo, o mais indicado é tratar a doença para depois treinar o mindfulness e prevenir novos quadros”, alerta Demarzo, que tem especialização no Center for Mindfulness in Medicine, Health Care, and Society, University of Massachusetts, nos Estados Unidos.

A revista científica britânica Lancet divulgou a conclusão de um estudo comparativo entre os treinamentos baseados em mindfulness e o efeito do uso de medicamentos antidepressivos e o resultado foi semelhante – ou seja, a terapia pode ser uma alternativa ao uso de remédios.

Para a prática do mindfulness a respiração é peça chave. É através dela, em um processo semelhante ao de meditação, que é possível concatenar equilíbrio de mente e corpo.

Vale ressaltar aqui que esta respiração não é aquela automática e necessária à vida. No treinamento mindfulness é fundamental ter o sistema respiratório como um aliado. De acordo com Marcelo Demarzo, é possível treinar 70% da capacidade de concentração.

A orientação do psicólogo Marcelo de Oliveira para iniciar o mindfulness é estar confortável e fechar os olhos. A partir disso, sentir o ambiente, o movimento e as trocas de energia do corpo com o lugar onde está acomodado, da respiração com o ambiente, ter a percepção do meio e sentir o clima, a temperatura e os ruídos do espaço, por exemplo.