É preciso que o condômino entenda o funcionamento do espaço para evitar diversas questões contraditórias no condomínio

Nas relações condominiais existem diversas questões contraditórias: pais que transferem suas responsabilidades a terceiros, moradores que querem o zelador para auxiliar em pequenos consertos dentro de casa ou dar ordens aos funcionários do condomínio. E sem falar nas reclamações por ajustes naturais nas taxas de condominiais ou dos pedidos de eliminação dos juros por taxas atrasadas.

Diante desta confusão, trouxemos algumas delas aqui para que você possa refletir e não inverter os valores das coisas:

Educação das crianças no condomínio:

É obrigação dos pais ensinarem aos seus filhos como devem se comportar diante das regras estipuladas nos condomínios – respeitando os horários, a capacidade de pessoas e a possibilidade (ou não) de trazerem seus convidados para a utilização de piscinas, quadras esportivas, playground, salões de jogos.

Sendo assim, é de incumbência dos próprios pais estudarem as regras e discutirem com seus filhos, educando para a vida condominial. Afinal, a criança de hoje será um condômino do futuro, um síndico, um morador que saiba respeitar e ser respeitado.

A inversão de valores se dá quando algumas pessoas acham que é obrigação dos funcionários do condomínio, ou até mesmo o síndico, tomar conta das suas crianças quando estão brincando no condomínio.

Aliás, os pais devem se preocupar, pois se uma criança estiver sozinha em uma área comum de um condomínio e por ventura um acidente acontecer, caracteriza-se abandono do menor e o pai é responsável direto.

Zelador dentro do apartamento:

Ouvi alguns moradores reclamando que zelador não os ajuda na troca de seu chuveiro, entupimentos na pia, instalação de varal, troca de lâmpadas, ou em qualquer outro reparo dentro do seu apartamento. Isso é proibido!

Nenhum funcionário do prédio pode realizar serviços individuais dentro das unidades autônomas. Todos os condôminos devem conhecer e respeitar essa importante regra de um condomínio.

No caso do zelador, ele deve cuidar apenas das áreas comuns, e nunca poderá permanecer dentro de um apartamento durante o seu horário de serviço.

Fora do seu horário, qualquer funcionário poderá ser contratado. Mas a partir desse momento, trata-se de uma responsabilidade do morador, estando o funcionário fora do seu turno.

Dar ordens aos porteiros e faxineiros do condomínio:

Essa é uma outra grande inversão de valor dentro de um condomínio e que atrapalha todo andamento dos trabalhos diários de um edifício.

Por pagar a sua cota parte, alguns moradores confundem a sua participação e dão ordens aos empregados do prédio. Chegam, em alguns casos, a dar instrução para a faxineira, mandando limpar uma área ou outra, oferecendo dicas de limpeza e de como realizarem suas tarefas diárias.

Quem deve dar as instruções aos funcionários é o síndico e seus subordinados, no caso de muitos condomínios, o zelador. Portanto, não é porque você paga o condomínio que é o patrão dos funcionários. Todo empreendimento tem a sua hierarquia e esta deverá ser respeitada.

Caso não esteja gostando do trabalho de algum porteiro, faxineiro ou zelador registre uma ocorrência junto ao síndico e deixe que ele mesmo dê as ordens, faça a distribuição das tarefas e aplique os devidos treinamentos.

Taxa do condomínio:

Ouvi em alguns condomínios pessoas dizerem achar um absurdo o valor do reajuste anual das despesas necessário para pagamento das contas do condomínio.

Pois bem, a explicação dada é muito simples: o valor da taxa do condomínio é decidido pelos condôminos em assembleia. É apresentada uma projeção com as despesas correntes, ordinárias e necessárias para a manutenção do empreendimento. Dessa forma, por exemplo, algumas despesas como mão de obra, podem representar cerca 50%, seguida do consumo 20% e manutenção em torno de 15%. O resto é administração, equipamentos, seguro e demais despesas.

Só existem dois caminhos para quem acha um absurdo: reajustar a arrecadação para fazer face às despesas já assumidas ou cortar os serviços.

Absurdo é querer manter as mesmas despesas aprovadas em assembleia e continuar com a mesma estrutura sem repassar o rateio necessário aos moradores, sabendo que boa parte das despesas sofre aumento anualmente – tais como dissídio da categoria da mão de obra, reajustes das concessionárias públicas, aumento dos contratos fixos de acordo aos índices pactuados como IGPM e inflação.

Isso não se chama absurdo, se chama irresponsabilidade. É obrigação do síndico apresentar os aumentos aos condôminos e solicitar a aprovação do reajuste ou corte de despesas.

Parcelamentos e facilidades para devedores:

Esse é o maior erro e a maior inversão de valores em um condomínio. Por diversas vezes já ouvi condôminos em assembleia solicitarem parcelamentos maiores para os que estão devendo conseguir pagar mais “fácil” a sua dívida.

Já ouvi pessoas sugerirem abatimento de multas e juros, que não é permitido em lei, e nem o síndico, e muito menos a assembleia, poderia dar descontos para aliviar a conta do devedor. Gente, isso é abrir uma porta para o crescimento da inadimplência!

Condomínio é cercado de direitos e deveres e o primeiro dever de quem vai morar em um condomínio é pagar em dia as taxas do rateio mensal.

Portanto, quem vai morar ou já mora em condomínio sabe que se atrasar seu condomínio terá de pagar multa, juros, correção monetária, além dos honorários advocatícios do advogado que foi contratado para prestar serviços de cobrança. Não é justo quem esta em dia, ter de pagar empresas de cobrança administrativas para cobrar os impontuais.

Por essas e por tantas outras, é preciso fazer uma grande reflexão do que é a vida em condomínio, parar de tentar inverter posicionamentos e fazer uma grande injustiça com os verdadeiros fatos e as verdadeiras necessidades em um condomínio.

Para o síndico, seu papel é administrar o condomínio com base na lei, na convenção, regulamento interno e as deliberações das assembleias, nesta ordem. Cabe ao síndico cumprir e fazer com que cumpram todas essas questões, tendo ele de buscar soluções para os problemas em condomínio, alcançando as “necessidades” de todos e nunca as “vontades”. Não saber distinguir estas duas questões é uma grande inversão de valores.

Que você viva muito feliz em seu condomínio!

(*)Marcelo Duarte é palestrante e fundador da Sigecon condomínios