A cantora americana Lady Gaga causou frustração e preocupação em seus fãs ao anunciar o cancelamento de sua apresentação no Rock in Rio por motivos de saúde.     A diva pop sofre de fibromialgia e relata no recém lançado documentário Gaga: Five Foot Two como é sua relação com a enfermidade.

“No nosso documentário, a doença crônica, a dor crônica que eu sinto é a Fibromialgia. Desejo ajudar a aumentar a conscientização e conectar as pessoas que a possuem”, tuitou a cantora Lady Gaga.

Durante o documentário, disponível no Netflix, a cantora mostra os bastidores do lançamento de seu novo álbum, Joanne, os preparativos para o show do Super Bowl, jogo de futebol americano, momentos de intimidade com família e seus dilemas cotidianos, inclusive emocionais.

Em determinado momento, Lady Gaga aparece em seu apartamento em Nova York chorando de dor. “Parece que uma corda está puxando meu dedão do pé por toda minha perna e depois da minha costela até o meu ombro e o meu pescoço. Até meu rosto dói”, diz sobre uma dor em todo o lado direito do corpo.

Amparada por uma equipe de profissionais que a cuidam, Gaga menciona a doença e questiona os cuidados das pessoas que sentem o mesmo. “Só penso nas outras pessoas que sentem algo parecido e estão tentando descobrir o que é, mas não têm dinheiro para arrumar alguém que as ajude. Não sei o que faria se não tivesse todos aqui me ajudando”, lamenta a diva pop.

Por minutos, Gaga: Five Foot Two mostra o sofrimento da cantora e seus conflitos internos com a fibromialgia. “Me sinto tão envergonhada. Não sei se posso ter filhos. Não sei como meu quadril vai se comportar. Não tenho ideia”. Mas a rotina de Gaga também envolve massagens, tratamentos relaxantes e atividade física acompanhada de profissional.

Predominantemente feminina, a fibromialgia é a própria dor. Como não há sintomas que caracterizem ou a descartem, não é fácil fazer o diagnóstico desta doença. “Exames são usados apenas para descartar outras doenças que podem ser confundidas com a fibromialgia”, disse em entrevista o médico ortopedista Moisés Cohen.

As dores costumam ser físicas, nos músculos e articulações, mas estudos indicam quem a patologia tem origem neurológica e quem tem fibromialgia tem reação diferente à dor. Assim, o cérebro do paciente acometido pela doença processa a dor de forma exagerada.

Em consulta médica, Lady Gaga conta que tenta controlar a dor há cinco anos, fazendo queixas principalmente das regiões abdominal e quadris. A médica Danielle Aufiero, que é especialista em medicina esportiva e fisiatria, propõe um tratamento em três fases – primeira: minimizar a dor intensa; segunda: reeducação de músculos; terceira: injeções para provocar regeneração.

Estatísticas mundiais apontam que cerca de 3% da população tem fibromialgia e a proporção é de sete mulheres para cada um homem com a doença. O sintoma inicial é a dor, que persiste e se alastra até se tornar uma dor difusa. Mas o que é isso? A dor difusa é provocada pela desregulação do sistema de dor. Ou seja, em uma pessoa sem fibromialgia, o cérebro informa quando existe um dano. Já a pessoa com a doença, tem o sistema desregulado e mesmo sem que haja dano específico, existe a dor.

Carregar o filho no colo, pentear os cabelos, cozinhar o almoço ou uma curta caminhada parecem tarefas simples. Mas para o portador da fibromialgia, pode ser doloroso. O paciente fibromiálgico aprende a conviver com a dor, mas a doença não tem cura e pode desencadear também fadigas, dores de cabeça, ansiedade, insônia, disfunções intestinais, rigidez muscular, sensibilidade excessiva, problemas de memória e concentração.

“A fibromialgia é uma doença benigna e o diagnóstico é clínico, baseado em sintomologia, principalmente a questão da dor”, comenta o reumatologista José Fernando Verztman.

O tratamento mais comum é feito a base de medicamentos, terapias cognitivo-comportamentais e fisioterapia. Apesar da dor, atividade física é fundamental para estes pacientes – a sugestão médica é iniciar com atividades aquáticas ou leves caminhadas e aumentar a movimentação progressivamente.

“Quando a pessoa mexe o corpo, as endorfinas liberadas pelo cérebro promovem efeito analgésico e relaxante, o que diminui a dor e ajuda a dormir bem”, disse à imprensa a educadora física Elizabete Mamede Gomes.

Outra orientação médica para reduzir as dores é a mudança de rotina e comportamento. “O tratamento principal é uma mudança de hábitos de vida relacionada a grupos de medicamentos que agem no sistema nervoso central, modulando este quadro de dor”, explica Verztman.