Estabilidade e crescimento representam força e desenvolvimento. Ou seja, tudo que o mercado imobiliário, e os outros setores da economia desejam desde o início da crise econômica brasileira. Aos poucos, os reflexos da recessão tendem a diminuir e já paira uma corrente positiva quando aos novos rumos da vida econômica do país.

Desde os primeiros sinais de retomada do mercado imobiliário, o grande combustível para este impulso é o programa habitacional do governo federal Minha Casa Minha Vida.

Destinado a pessoas com menor renda e com o objetivo de reduzir o déficit habitacional brasileiro, o Minha Casa Minha Vida é responsável pela maior fatia do volume de vendas na recuperação do setor.

“Mesmo em um cenário de crise econômica, o programa Minha Casa, Minha Vida é muito importante no cotidiano dos nossos negócios. Para muita gente ainda é impossível pensar em adquirir um imóvel sem os benefícios oferecidos pelo Minha Casa, Minha Vida”, disse à imprensa Marcelo Cândia, diretor de engenharia do Grupo Promoval.

De acordo com pesquisa imobiliária realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) com base em dados de 20 empresas que fazem parte da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc),  o mês de maio de 2018 apresentou uma alta de 3,1% no número de lançamentos em comparação ao mesmo período do ano passado.

A base do crescimento foram os empreendimentos enquadrados no programa Minha Casa Minha Vida com quase cinco mil unidades e um percentual de 62% no total. Já os lançamentos de produtos imobiliários de médio e alto padrão somam mil unidades e uma queda de 61%.

Outro ponto positivo apresentado na pesquisa foi o número de vendas no mês, mais de nove mil unidades e uma evolução de 12,8% também na comparação com maio de 2017. A venda foi puxada pelas unidades econômicas que representam 4.439 imóveis e uma alta de 28%. As construções de médio e alto padrão mais uma vez registram desempenho negativo – desta vez, de 11%.

Não é de agora que o MCMV é o agente potencial do mercado imobiliário. Uma compilação de dados de 2017 já mostra uma elevação no número de lançamento no paralelo com o ano anterior – foram 82.508 unidades frente a 69.803, respectivamente.

Os projetos integrantes do programa habitacional do governo cresceram em 23% e totalizaram quase 65 mil unidades contra as cerca de 17 mil unidades de médio e alto padrão, que novamente marcam um declínio de deste segmento com 12,5% negativos.

Segundo o presidente da Abrainc, Luiz França, unidades de médio e alto padrão são, geralmente, adquiridos por pessoas que já possuem moradia própria e, neste momento de incerteza, estão mais cautelosos para compras deste porte.

“A efetivação da compra ainda depende de maior confiança dos consumidores e de uma evolução nas quedas da taxa de juros, para tornar o negócio mais atrativo. Os bancos estão demorando para repassar o corte dos juros”, avaliou França.

Para o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), Roberto Fernandes, é preciso facilitar o processo de retomada do setor.

“A desburocratização, a redução das taxas dos cartórios (que são exorbitantes) e diminuição dos gastos públicos são fatores imprescindíveis para que a construção civil e todos os demais setores da economia voltem a crescer. O Brasil precisa de investimentos em infraestrutura e, principalmente, oferecer os serviços de saneamento de água e esgoto para toda a população”, afirma o goiano.

Minha Casa Minha Vida

Os preços mais baixos e a queda nos custos do financiamento são diferenciais atrativos para essa demanda maior nos imóveis populares – que é intensamente procurado por famílias que planejam sair do aluguel ou vivem em moradias precárias.

“O déficit habitacional está concentrado justamente nesse segmento. A demanda continua aquecida por se tratar de uma necessidade”, observou o presidente da Abrainc.

Sabendo que a fatia de produtos imobiliários enquadrada no programa Minha Casa Minha Vida segue aquecida, muitas construtoras e incorporadoras já redirecionam projetos e veem neste segmento uma opção mais vantajosa – até que o mercado de médio e alto padrão volte a reagir. Ainda mais com o anúncio feito pelo governo federal, em fevereiro, que tem meta de contratar 650 mil novas unidades do Minha Casa Minha Vida em 2018.

Outra consequência positiva é a retomada dos empregos ofertados pela construção civil em todo o Brasil. Na cidade de Marília, interior de São Paulo, houve um aumento de mais de 400 postos de trabalho com carteira assinada na comparação dos primeiros meses de 2018 com o mesmo período do ano anterior.

“A gente tem que abraçar aquilo que nos convém para dar o pão de cada dia para nossos filhos e aqui dentro da construção civil, muitas empresas têm se esforçado para manter o canteiro funcionando, e através disso estou tendo a oportunidade de estar trabalhando, sustentando minha família e sou grato”, disse em entrevista o servente de pedreiro Reginaldo de Araújo.

Mas este ainda não é o cenário perfeito para o mercado imobiliário. Na ponta compradora, especialistas argumentam ainda haver desconfiança com a estabilidade da economia.

O déficit habitacional brasileiro, com necessidade de mais de seis milhões de habitações e a criação de subsídios para famílias de baixa renda, permite que este grupo tenha acesso à casa própria.

Avaliação externa

Uma das principais gestoras de fundos de investimentos imobiliários dos Estados Unidos, a Paladin Realty Partners LLC avalia com ‘precaução’ o mercado imobiliário brasileiro e o motivo dessa análise está diretamente ligado à confiança do consumidor, mas também engloba distratos, crédito imobiliário e oscilação do dólar.

“Os ciclos eram de três ou quatro anos, agora são de três ou quatro meses. Há trimestres de otimismo e trimestres de pessimismo”, declarou Ricardo Raoul, diretor da gestora.

E, apesar de perceber uma ‘discreta melhora’ no mercado imobiliário nacional, Raoul acredita na manutenção desta conjuntura até o final de 2019. Para ele, as mudanças no comportamento econômico do Brasil estão atreladas as medidas adotadas pelo presidente que será eleito.