Inegavelmente a internet aproxima pessoas, minimiza distâncias e potencializa negócios. Apostando em inovação e acompanhando as tendências do mercado, surgem startups com plataformas digitais e dinâmicas prometendo facilitar a vida do consumidor e acelerar as negociações imobiliárias.

Ainda sofrendo as consequências da crise política e econômica, o mercado empreendedor reconfigura antigos moldes e investe no novo perfil do consumidor: antenado e digitalmente influenciado pela comodidade que a internet proporciona.

O mercado imobiliário é tido por especialistas como tradicional e conservador, mas internet costuma ser o ponto de busca inicial de quem procura um imóvel e saber utilizar a ferramenta de forma correta é crucial para enlaçar negociações imobiliárias.

Para o especialista em demanda e comportamento do consumidor no mercado imobiliário, Marcus Araújo, ainda há lacunas na comercialização digital de imóveis.

“Na verdade, ainda estão todos assimilando as mudanças mais recentes. Não é tão fácil, como parecia, encontrar o cliente no meio online. Em nossas pesquisas temos uma pergunta para os consumidores sobre uso de apps e ferramentas em smartphones, e, para se ter uma ideia, a ferramenta invariavelmente utilizada por mais de 90% dos compradores de imóveis é o WhatsApp que não possui uma rotina oficial de mídia – ainda está tudo sem regulamentação neste aplicativo. Ele é aberto e fechado ao mesmo tempo. Redes sociais, já não conseguem fazer todo o trabalho, e a tal ‘geração de landes qualificados’ no meio online para vendas está cada vez mais difícil de ser atingida. Enfim, acredito que a grande maioria ainda não sabe lidar com todas as ferramentas”, expõe Araújo.

Intermediário digital

A maioria dos aplicativos desenvolvidos para o mercado imobiliário oferece o serviço de intermediação direta entre consumidor e vendedor, excluindo a necessidade de corretor de imóveis para efetivar a transação – o que gera uma economia, em média, de 5% do valor do imóvel referente à taxa de corretagem. Se o imóvel a ser vendido custar R$500 mil, o proprietário não precisará desembolsar os R$ 25 mil de comissão para o intermediário, por exemplo.

Na opinião do presidente do Conselho Federal de Corretores Imobiliários (Cofeci), João Teodoro da Silva, é natural que o desenvolvimento e as inovações tecnológicas afetem determinadas profissões, mas nem todas são possíveis automatizar.

“Uma negociação imobiliária pressupõe talento, criatividade, sensibilidade humana, interação social e discussão (proposta, contraproposta). Tais coisas não estão disponíveis em computadores ou apps. Assim, a tecnologia ajuda muito, mas não dispensa a presença humana do corretor de imóveis”, avalia o presidente da entidade.

Lançado no ano passado, um aplicativo imobiliário que ganhou a apelido de ‘Tinder do imóveis’, em alusão ao famoso aplicativos de paqueras, surgiu com o propósito de unir interesses comuns na compra, venda e troca de imóveis.

““É natimorto. Não passa de mais um dos tantos outros que já nasceram e que já morreram. Esses aplicativos são inócuos”, comentou à época o presidente do Creci-SP, José Augusto Viana Neto.

Já atuando no Brasil, a empresa norte-americana Hubbers Real Estate, por exemplo, dispensa corretores de imóveis e propõe a conexão direta entre vendedores e compradores. A ideia desta imobiliária é iniciar a comercialização no mercado paulistano de alto padrão com a utilização de facilitadores da negociação.

A cada intermediação convertida em negócio a comissão recebida pela empresa norte-americana é 50% menor do que a praticada pelo mercado, segundo seu sócio fundador Luciano Amado.

Ainda de acordo com Amado, a plataforma criou um sistema de negociação transparente para intermediar negócios, porém dentro de um formato totalmente novo e diferente do serviço oferecido pelo corretor de imóveis tradicional.

“A Hubbers traz um modelo de negócio disruptivo e se posiciona como sendo a primeira plataforma de serviços online para compra e venda de imóveis. Entendemos que não existe ninguém mais apropriado para falar de um imóvel do que seu dono. A ideia é contar por que aquele é melhor lugar do mundo para se viver, passando pelos diferenciais de arquitetura, acabamentos, vizinhança e sua intimidade com o bairro onde vive. E dentro deste novo formato de venda de imóveis, a Hubbers otimiza o tempo do comprador e do vendedor, demonstrando que o mais importante é respeitar o tempo das pessoas, dentro de um processo verdadeiro e transparente. Afinal, é isto o que as pessoas anseiam, tendo em vista o estilo de vida em que vivemos atualmente”, comenta o sócio fundador.

Evolução inevitável

Para o corretor de imóveis Guilherme Machado, é inevitável a evolução deste mercado. “Não tem como evitar este movimento de mercado. O que corretor de imóveis e a imobiliária podem fazer é melhorar a qualidade do serviço. A única forma de neutralizar a negociação via aplicativo, se é que tem como, é sendo cada vez mais imprescindível nesta negociação, onde os honorários pagos pelo cliente se façam valer pelo trabalho diferenciado”.

E, mesmo acreditando no avanço da inovação e da tecnologia, Machado ressalta que “nada irá substituir o papel de um profissional, um corretor de imóveis que entende e atende e não é meramente um mostrador de imóveis”.

Para o estatístico Marcus Araújo, que também fundador presidente da Datastore, empresa com 22 anos de experiência em pesquisas e dados, o perfil do consumidor mudou em todos os setores.

“O perfil mudou, o perfil demográfico ainda é o mesmo, mas a cabeça do consumidor brasileiro mudou. Vejamos alguns dados resumidos que podem ser aplicados a todo o país, mesmo nas pequenas cidades, mais de 85% dos compradores possuem smartphone, mais de 90% usam WhatsApp, mais de 80% acessam o YouTube pelo menos um vez por semana. Realizamos pesquisas todos os dias e, em todas as nossas pesquisas, temos um módulo completo de uso de mídias digitais e a conclusão é que o marketing digital já dominou o ambiente. As empresas é que não o  dominaram ainda”, explica o estatístico.

As novas ferramentas tecnológicas disponíveis no mercado facilitam o acesso ao mundo digital e oportunizam a comercialização também para corretores de imóveis e imobiliárias. Mas, segundo especialistas, o mercado imobiliário ainda não alcançou o real poder deste novo formato de negociação.

“O mais importante, em minha opinião, é que as empresas estejam abertas para refletir como o uso desta e de outras tecnologias podem agregar valor percebido ao seu modelo de negócio. Penso, no entanto, que o mercado imobiliário ainda pode crescer muito neste sentido, pois vejo que algumas plataformas que já foram desenvolvidas e entregam tecnologias incrivelmente modernas, que ainda não conseguiram atrair os empresários e usuários do mercado”, disse Luciano Amado.