Com a promessa de reduzir custos e aumentar a segurança dos moradores de forma rápida e eficaz, a portaria remota parece uma proposta tentadora aos bolsos dos condôminos, mas na prática, é preciso ficar atento aos perigos e contratempos causados por esta tecnologia. Pois nada substitui a sensibilidade e a atitude imediata do ser humano.

Assim, a portaria remota surge com a proposta de substituir a portaria humana e os serviços de receber moradores e visitantes, abrir e fechar portões de acesso e manter a segurança 24h através de câmeras de circuito interno que são interligadas a uma central de monitoramento e comando.

No prédio da professora Flávia Correia, quando surgiu a ideia de portaria remota, a proposta foi rejeitada de imediato. “Quando um morador começou a sugerir a ideia de portaria remota, não deixei que ele terminasse. Represento outros condôminos, por isso, voto por três e não quis ouvir a proposta. Mas pelo pouco que falou, mostrou um custo enorme, que não agradou aos outros condôminos”.

Os valores da portaria remota variam de acordo com as adaptações a serem feitas no edifício, a distância e a escolha dos serviços que serão recebidos pelo condomínio. Cada prédio precisa ser analisado individualmente, mas o valor mínimo para preparação é de R$ 5 mil. Também é de R$ 5 mil o valor mensalmente pago pela manutenção e prestação dos serviços escolhidos pelo condomínio.

Para Flávia Correia, a manutenção dos porteiros vai além de custos financeiros, é uma questão de valores humanos. “Temos porteiros bons e antigos, que já viraram amigos. Eles estão sempre atentos as nossas necessidades e temos a certeza de ter com quem contar a qualquer hora. Além do mais, seriam quatro pais de família desempregados sem necessidade”, explica a professora.

Mas é preciso ficar atento à viabilidade da instalação tecnológica no condomínio, pois há especificações e contraindicações também. Especialistas da área indicam que o perfil de condomínio ideal é empreendimento de pequeno porte, com até 40 unidades, ou aquele com maior estrutura e mais de uma portaria que deseja manter apenas uma física, automatizando todas as outras.

Eles estão sempre atentos as nossas necessidades e temos a certeza de ter com quem contar a qualquer hora. Além do mais, seriam quatro pais de família desempregados sem necessidade
Flávia Correia, professora

Mesmo substituindo a mão de obra humana, o ser humano ainda é peça chave para o bom funcionamento da tecnologia. “Para realizar uma mudança dessas no condomínio, de cultura mesmo, os moradores devem estar bem cientes do que estão abrindo mão para conseguirem economizar. Se acharem que vale a pena – e pode valer muito – então o condomínio está pronto para dar esse passo”, disse em entrevista a gerente de marketing da Lello Condomínios, uma das maiores empresas do setor no Brasil, Angélica Arbex.

E ainda que haja o envolvimento coletivo na adaptação e manuseio da portaria remota, há uma corrente contrária a esta substituição completa, entendendo ser a presença do ser humano inibidora da ação criminosa. “Você perde a capacidade pessoal de coibir a ação criminosa, o que inibe o ladrão é o fator humano. Ele, quando bem treinado, é uma peça fundamental e imprescindível”, argumentou à imprensa o especialista em segurança pública e privada Alexandre Domingos.

Eliminar postos de trabalho de profissionais comprometidos e qualificados deve ser avaliado por todos. O porteiro, em muitos casos, estabelece relacionamentos fundamentais para o ambiente condominial.

Para o presidente do Secovi-AL, Nilo Zampieri Jr., o porteiro é fundamental. “Sou completamente a favor do uso da tecnologia em prol da nossa segurança e da nossa família. Mas existem funções delicadas de substituir sem os devidos cuidados e o porteiro é uma delas. Só um ser humano é capaz de corresponder a algumas necessidades que envolvem um condomínio. Os moradores precisam deste profissional em uma diversidade de momentos. E uma portaria remota jamais daria o suporte equivalente”, disse o presidente, que vive em um prédio que utiliza sistema de segurança de videomonitoramento, sem abrir mão dos porteiros.

Sou completamente a favor do uso da tecnologia em prol da nossa segurança e da nossa família. Mas existem funções delicadas de substituir sem os devidos cuidados e o porteiro é uma delas
Nilo Zampieri Jr., presidente do Secovi-AL