Com o enfraquecimento do programa de pacificação das comunidades, imóveis em ruas próximas àquelas em que as UPPs estão em crise ou deixaram de existir tiveram queda de até 50% no preço de venda e de aluguel, segundo levantamento do Secovi Rio. A violência dita até cláusulas de contratos de locação. O mercado imobiliário do Rio, impulsionado com a criação das UPPs, viu as conquistas dos últimos anos caírem por terra com o desmantelamento do programa de pacificação. Levantamento do Sindicato da Habitação (Secovi Rio), entre junho de 2017 e deste ano, mostra que a desvalorização chegou a 24,9% em ruas próximas ao Morro da Formiga, na Tijuca. Na média do bairro, a queda foi bem menor, de 2,8%.

Com isso, proprietários têm buscado estratégias para vender e alugar imóveis em vias que já não inspiram segurança. Além da redução dos valores, as negociações vão desde a oferta de vantagens, como um ano de condomínio pago e armários grátis no imóvel, até deixar o inquilino morar de graça, só para a casa não ser invadida por bandidos.

A violência passou até a ditar cláusulas dos contratos. Um proprietário, que não quis se identificar, conta que os tiroteios constantes fizeram com que deixasse um apartamento na Rua Santa Clara, em Copacabana. Ao alugar o imóvel, fez com que o inquilino se comprometesse, por escrito, a não abrir as janelas voltadas para o Morro dos Cabritos.

“Morava no apartamento e saí por causa da violência, dos tiroteios e das ameaças. Deixei claro com a imobiliária que eu só assinaria contrato com essa cláusula” diz, explicando que não poderia sair sabendo que alguém poderia correr risco no local.

Como um todo, a crise, associada à onda de violência, provocou queda de 5,3% no valor dos imóveis na cidade, somente no último ano, segundo cálculo do Secovi. Mas, pontualmente, o impacto pode ser muito maior. Na Rua Teixeira de Melo, em Ipanema, beneficiada no passado pela UPP Cantagalo/Pavão Pavãozinho, o metro quadrado despencou de R$ 17.727 para R$ 14.899 (-16%). Já na Rua Roberto Dias Lopes, no Leme, no entorno da UPP Babilônia/Chapéu Mangueira caiu 12,9% (de R$ 16.016 para R$ 13.954). E, na Estrada da Gávea, nos arredores da Rocinha, que há dez meses, desde setembro de 2017, enfrenta uma guerra entre facções do tráfico, a perda foi de 10,1% em um ano (de R$ 11.458 para R$ 10.306).

“No passado, detectamos uma valorização dos imóveis proporcional à distância das UPPs. Quanto mais próximo das unidades, maior era a valorização, porque as pessoas se sentiam mais seguras”, analisa o consultor Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios.

Na investida para desencalhar apartamentos de um condomínio na Rua do Bispo, no Rio Comprido — de onde se vê o Morro do Turano de quase todos os imóveis —, a construtora, além de baratear o preço em até R$ 100 mil, dispensa a taxa de condomínio por 12 meses e oferece voucher para a compra de armários.

“Quanto mais vista para o morro, mais barato o apartamento”, admite um corretor.