Acarajé, barreado, tacacá, arroz de pequi, pãozinho de queijo. Hum… o Brasil tem uma variedade de misturas e sabores de dar água na boca. Em cada cantinho deste país de dimensões continentais, uma receita tradicional e um punhado de história.

Muito além do simples ato se alimentar, a comida revela a memória cultural de um povo. A gastronomia brasileira foi construída a partir da fusão de sabores indígenas, africanos e europeus.

Para o chef e apresentador de TV Guga Rocha, alagoano que atualmente vive no Canadá, a comida é um traço singular de cada povo.

“A comida é uma das mais marcantes formas de definição de uma sociedade. A comida brasileira é a personificação de nossa história, cultura e tradição. Por ser plural e multifacetada a comida do nosso país de define por conforto, carinho e sabor. Uma comida regional, feita para agradar e receber”, disse o chef.

E em cada região brasileira existem traços específicos que caracterizam as peculiaridades e hábitos de cada grupo – pois, mesmo com a facilidade de circulação dos alimentos, a abundância do lugar de origem o torna singular.

Conhecendo países de todos os continentes, a comida preferida de Guga Rocha é sempre ‘a próxima’. “Sou guloso, e curioso, adoro provar novidades. Em minhas viagens, em mais de 40 países, mergulhei sempre de cabeça em sua cultura alimentar”, lembra o chef que foi um dos finalistas do Super Chef, quadro do programa Mais Você da Ana Maria Braga.

Do Norte

Tacacá. (Foto: Reprodução).

Com fortes raízes indígenas, as comidas da região Norte trazem, em sua maioria, a tradição dos primeiros povos a habitar o Brasil.

O famoso tacacá é um caldo quente preparado com a goma da mandioca, temperado e acrescido de tucupi, camarões, jambu e erva picante da região. O tucupi, por sua vez, é um molho ácido e amarelado feito de água e mandioca e acompanha vários pratos da culinária nortista, a exemplo do pato ao tucupi.

Mas, vale ressaltar o cuidado com este líquido, pois é extraído da mandioca brava, uma espécie de raiz venenosa. O preparo desta iguaria envolve muitas horas de cozimento para eliminar o efeito nocivo.

Já o açaí, por ser um alimento benéfico à saúde, se popularizou em todo o Brasil. Nas demais regiões, o fruto é consumido como uma espécie de sorvete com a adição de frutas, caldas, guaraná e leite em pó. E no norte, o açaí serve de acompanhamento para peixes fritos e até feijão.

Na mesa do nortista também é comum o uso do jambu, erva típica da ambiente amazônico com propriedades medicinais, mas muito consumida em saladas, pratos quentes e até bebidas alcóolicas. A marca registrada da erva é a dormência na boca.

Oxe!

Acarajé. (Foto: Reprodução).

A Região Nordeste, dona do maior número de estados (são nove!), tem o sabor do mar e do sertão. Os frutos do mar, servidos ensopados ou fritos, encantam principalmente aos turistas pela abundância e variedade.

No interior, os pratos tradicionais ficam por conta da carne de sol, proteína animal historicamente seca ao sol para evitar o desperdício, e da buchada, prato típico nordestino preparado com miúdos (bucho, tripas, fígado, pulmão, coração, passarinha e língua) do bode que, após tempero e cozimento, são servidos dentro de trouxas feitas o estômago do animal – chamado pelo nordestino de ‘bucho’ e daí o nome do prato.

O acarajé é outra marca do nordeste. O bolinho de feijão frito no óleo de dendê e recheado com camarão tem origem africana e tem seu mais famoso ponto em Salvador com a barracas montadas a céu aberto por baianas. Mas já existem outros recheios para o bolinho (frango, bacalhau, filé de siri) e um formato mais gourmet, servido no prato.

E a tapioca, feita da goma da mandioca, ganhou fama nacional ao ser indicada como substituto do pão. Mas no nordeste ela, que tem origem indígena, é um alimento frequentemente ingerido no café da manhã ou jantar.

Reconhecidamente patrimônio imaterial significativo de Alagoas, o sururu é um molusco abundante na Lagoa Mundaú e representante da cultura alagoana. À mesa, o marisco pode ser saboreado de diversas formas: um caldinho de entrada ou em uma deliciosa moqueca ao coco como prato principal.

Uai

Pão de queijo. (Foto: Reprodução)

Na região mais rica do Brasil, toda a culinária nacional e internacional se reúnem. Todavia, o pão de queijo é uma iguaria mineira típica região Sudeste. A grande curiosidade sobre este pãozinho é que a receita é a base de polvilho e não de farinha de trigo. E a substituição do ingrediente foi feita, segundo historiadores, por causa da escassez de farinha nas tradicionais fazendas mineiras.

No Rio de Janeiro, o carro chefe fica por conta da feijoada. A cara do Brasil, o prato é preparado com feijão preto, carne seca, linguiça e partes do porco (rabo e orelha). A origem do prato é escrava, criado a partir dos ingredientes rejeitados pelos senhores feudais.

A moqueca capixaba tem um jeitinho especial de preparar. Os ingredientes são os mesmos: peixe (geralmente Badejo, cação ou dourado), verduras e ovos. O diferencial é o cozimento feito na panela de barro – é este segredo que dá um gosto especial ao prato.

Em São Paulo, o mais característico sabor do lugar é o virada à paulista, criado na época do Brasil Colônia e recebe este nome porque os alimentos eram levados por expedições de bandeirantes e, quando chegam ao destino, já estavam revirados. O prato farto é composto de arroz, carne, linguiça, ovo, couve e banana.

De centro

Arroz com pequi. (Foto: Reprodução).

Região onde está localizada a capital federal, o Centro-oeste é a única região não banhada pelo mar. Também por isso, se reunir à mesa é um dos maiores prazeres dos habitantes do lugar.

O pequi é a grande atração da região. Fruto típico do Cerrado e de polpa amarelada, o pequi dá cor e sabor ao arroz e a galinhada, que encantam locais e turistas. De origem culinária indígena, o pequi é colocado inteiro no preparo destas comidas, tornando-as agradáveis aos olhos e ao paladar. Uma curiosidade é que a galinhada também é cozida com arroz (uma mistura semelhante ao risoto).

Tradicionalmente conhecidos pela fartura à mesa, o empadão goiano é outro prato típico que tem como características o tamanho e volume e variedade de recheios – linguiça, lombo de porco, queijo (muito queijo!), palmito, ovo cozido, azeitona e pequi.

Os peixes também são iguarias da região. O caldo de piranha é típico do Pantanal e tem alto valor nutritivo. Abundante nos rios mato-grossense e de fama afrodisíaca, o caldo é preparado com cebola, pimentão e pimenta malagueta. Por ter preparo simples e rápido, é consumido frequentemente todo o dia. Há também quem adicionei leite de coco para deixar o caldinho mais cremoso.

Bah, tchê!

Churrasco. (Foto: Reprodução).

O Sul é a região do mais que mais recebeu influência gastronômica europeia. Mas é o churrasco, comida de tradição sem origem exata, o principal prato sulista. A região é famosa por seus churrascos saborosos e pela valorização de cada parte do animal.

O tempero é um só: sal grosso. Mas os gaúchos sabem exatamente o ponto perfeito para retirar a carne do fogo. É de dar água na boca.

Também feito de carne, o barreado é um prato paranaense de origem portuguesa feito na panela de barro. Cozida com cebola, alho, pimenta, cominho e louro, a carne fica na panela em alta temperatura até se desmanchar e é servida com farinha, arroz e banana da terra.

É impossível falar das tradições sulistas, sem falar do chimarrão. A bebida quente é feita com erva mate e de hábito coletivo, ou seja, famílias e amigos se reúnem e a bebida é passada de mão em mão.