Tolerância e bom senso são os maiores aliados para a boa convivência em condomínio. Algumas ferramentas tecnológicas surgem e ganham força com o propósito de promover a interação instantânea e minimizar os desentendimentos.

O assunto é polêmico e gera controvérsias. O argumento bastante utilizado é de que o uso de aplicativos de mensagens instantâneas, como WhatsApp, no suporte de gerenciamento podem danificar a comunicação e, em muitos casos, desvirtuar o real motivo dos grupos formados.

Quem é a favor da praticidade digital argumenta que sites, circulares e até o livro de ocorrência não têm a mesma eficácia do imediatismo dos aplicativos. Isto porque a interação digital é incontestável e o número de usuários, independentemente da idade, só multiplica – desta maneira, a conexão pode agilizar alguns assuntos.

Como comandante do condomínio, o síndico também precisa ter firmeza para conduzir a interação digital. O ideal é que existam regras de convivência também nos grupos online e que os participantes, além do respeito ao regramento, tenham bom senso para evitar tumultos desnecessários – e até mesmo processos judiciais.

Para o advogado especialista em condomínios Marcio Rachkorsky, apesar de favorável ao meio de comunicação, é conveniente que a participação ou não do síndico seja uma decisão dos demais moradores.

“É um meio eficaz devido à agilidade, mas o síndico só deve participar se ele for convidado pelos moradores”, comentou à imprensa o especialista.

O administrador do grupo tem a função de fato para gerir o ambiente online com apaziguamento de ânimos, alerta constante sobre o objetivo principal do grupo e, principalmente, tornar o lugar mais um espaço do condomínio com a divulgação de informações e a discussão de temas que possam melhorar a convivência.

Síndico de um condomínio na Jatiúca, o engenheiro civil Márcio Fabian Evangelista Silva, faz uma avaliação positiva da ferramenta.

“O uso do grupo como mais um meio de comunicação vale a pena e tem eficiência. Há integração dos que participam, mas nem todos se manifestam”, comenta ele.

A queixa mais comum de quem participa dos grupos condominiais é a desvirtuação do assunto. É frequente o volume de mensagens de ‘bom dia’ ou a transmissão de notas e imagens com conteúdo avesso ao interesse daquela comunidade.

“As pessoas têm dificuldade de entender o real objetivo da criação do grupo. Tantos assuntos interessantes para abordarmos e o que acontece? O grupo do meu condomínio bombardeia de mensagens de transmissão. Mas, eventualmente, alguém abre um assunto interessante como a barganha de preços em uma dedetização coletiva ou incidentes de cocô de cachorro na calçada do vizinho”, comenta a dentista Socorro Silva, moradora de um condomínio horizontal.

É inegável a eficiência das mensagens instantâneas em casos de urgência – princípio de incêndio; vazamento hidráulico ou problemas elétricos; eventual falta de energia.

Os especialistas em etiqueta também recomendam evitar conteúdo polêmico como religião, política e futebol. Outra dica é perguntar previamente ao condômino se ele tem interesse em participar do grupo.

“Grupos de WhatsApp podem funcionar como uma faca de dois gumes, pois, da mesma forma que permitem uma rápida comunicação e integração, são propícios a discussões de assuntos que não dizem respeito ao condomínio, como política por exemplo, o que poderá causar mal-estar entre os membros e acarretar até mesmo discussões e brigas mais sérias”, comenta a advogada Tatiana Tomzhinsky.

É exatamente o que acontece no condomínio de Márcio Evangelista. “Nem sempre o foco é o condomínio, tem sempre variação de assuntos. Já houve alguns pequenos atritos, porém a grande parte por questões políticas, que não tinham nada a ver com o condomínio, brigas ainda não”, lembra o síndico.

Mas o que é de interesse condominial? Sugestões de melhoria na harmonia ou estrutura do prédio, ideias que agreguem valor ao lugar, notícias sobre sustentabilidade, energia e água, situações ocorridas (desde que não julguem ou constranjam o morador), debates sobre assuntos específicos da vida daquele condomínio (cocô de cachorro, barulho, garagem, etc).

Fotos e informações banais são completamente descartáveis. O grupo do condomínio é um território exclusivo para interesse coletivo. E cada morador deve escrever apenas quando tiver algo a acrescentar – esta dica pode evitar desentendimentos ou aborrecimentos desnecessários.