As relações humanas são quase sempre complicadas, independente do tipo ou local de convivência. Viver em condomínio, às vezes, é um grande desafio. Isso porque são várias mentes, com realidades, opiniões e gostos distintos, dividindo o mesmo lugar.

Márcio Rachkorsky é advogado especialista em condomínios com vasta experiência. Ele afirma que os desentendimentos entre vizinhos não param de crescer.

“Nos condomínios, vivemos um triste período de intolerância e falta de paciência. Percebo que, na esmagadora maioria dos casos, o que falta aos moradores é tato, jeitinho e gentileza ao falar, criticar ou reclamar. Quando nos dirigimos a um vizinho, seja nas assembleias ou pelo interfone, precisamos respirar fundo, escolher bem as palavras e evitar adjetivos pesados, afinal de contas, vizinho é alguém muito próximo, com quem convivemos diariamente, por anos. Não há nada mais constrangedor do que pegar o elevador com um desafeto, aquele minutinho parece uma eternidade”, pontua o advogado.

Os atritos entre vizinhos de porta ou de andar ocorrem quase sempre por causa do barulho, seja em razão do comportamento abusivo do morador barulhento, ou por causa do “reclamão”, com sensibilidade exacerbada. Segundo Rachkorsky, ao reclamar ou responder a uma queixa, a abordagem, o tom de voz e a coerência são determinantes para evitar o acirramento dos ânimos, sem comprometer a resolução do problema.

“Já os atritos coletivos, aqueles que envolvem temas da gestão e administração do condomínio, geralmente ocorrem durante as assembleias e frequentemente terminam em tumulto e até processo judicial –talvez seja esse o motivo de as assembleias estarem cada vez mais vazias. Tudo acontece quando um morador ataca o síndico ou o grupo gestor com palavras ofensivas ou então quando quem está no comando não aceita críticas e indagações”, explica o especialista.

Há ainda, segundo Márcio Rachkorsky, os conflitos generalizados, fomentados pelos vizinhos que chamados pelo especialista de “leões de teclado”, os que adoram usar as redes sociais para debater assuntos delicados, acusando e julgando vizinhos, sem dar chance de defesa.

“Os síndicos têm um papel fundamental para prevenir brigas e devem agir como pacificadores sociais. Alguns condomínios até mesmo criaram comitês de disciplina, justamente para avaliar as situações conflituosas, ajudar a encontrar soluções e aplicar as penalidades cabíveis aos maus vizinhos. Uma gestão transparente, com boa comunicação e aplicação justa do regulamento interno, é fundamental para evitar confusões”, afirma o especialista que é Palestrante e Conferencista.

Harters

Márcio Rachkorsky é advogado especialista em condomínio, Palestrante e Conferencista. (Foto: Divulgação)

‘Haters’ é uma expressão nova em nosso vocabulário e significa “os que odeiam”, “odiadores”. O ambiente dos “haters” é quase sempre virtual e, para Márcio Rachkorsky, são pessoas que atuam nas redes sociais com inveja e covardia.

“Lidar com aqueles que nunca estão felizes é desafio em condomínio. Os “haters” atacam síndicos, conselheiros, moradores e funcionários. A ação quebra a harmonia, gera discórdia e afeta até a imagem do prédio (e a valorização das unidades), já que ninguém quer morar ou investir num lugar sabidamente tenso. Há casos de moradores que resolvem mudar de endereço de tão nefasto e aniquilador os ataques e as intrigas”, conta o especialista.

A comunicação efetiva da administração com os moradores é a forma mais eficiente de combater os “haters”. Ela evita boatos e mantém os moradores cientes sobre obras, contas, problemas e ocorrências. A criação de um canal oficial para críticas, ideias e sugestões, com respostas rápidas, técnicas e impessoais, também funciona.

Não raramente, no entanto, os “haters” cometem crimes de calúnia, injúria, difamação, ódio racial e homofobia, atingindo em cheio a honra e a moral de um vizinho. “Nesses casos, o caminho é colher as provas materiais e testemunhais e adotar as medidas judiciais cabíveis –não só na esfera civil, mas, sobretudo, na criminal”, orienta Rachkorsky.

Os “haters” podem sofrer ainda sanções administrativas, com advertências, notificações e multas. Nos casos mais graves, eles podem ser rotulados como moradores antissociais, sujeitos a multas de dez vezes o valor da quota condominial.

“O papel do síndico é fundamental para manter a ordem, agindo como um pacificador social. Acompanhei o trabalho de um condomínio que contratou os serviços de uma psicóloga para analisar e atuar junto aos moradores mais exaltados. A iniciativa resultou em uma palestra aos moradores sobre respeito, críticas construtivas e amizade. Ao síndico e à sua equipe, ficou a lição para que deem mais importância às críticas e aos anseios dos moradores. Todos saíram ganhando nessa, prevenindo e evitando litígio”, finaliza Márcio Rachkorsky.