O avanço do mar, na praia da Jatiúca, em Maceió, resultou na demolição de uma barraca localizada no calçadão da Avenida Álvaro Otacílio. O estabelecimento tinha mais de 30 anos de existência e apresentava risco de desabamento. A ação foi realizada pela Defesa Civil de Maceió e a Secretaria Municipal de Segurança Comunitária e Convívio Social (Semscs), na última quinta-feira (19).

De acordo com o coordenador de Postura da Semscs, Auriberto Neto, a barraca foi afetada pelo avanço do mar e condenada pela Defesa Civil, que coordenou a ação de demolição. “A barraca estava com uma ordem de demolição há 30 dias”, afirmou.

Segundo os proprietários do estabelecimento, não era possível realizar uma nova reforma devido ao avanço do mar. Eles entraram com uma ação no Ministério Público Estadual (MPE) para tentar barrar a demolição, alegando que o local não oferecia riscos. A ação, no entanto, foi julgada improcedente. Os proprietários foram notificados e tiveram o prazo de cinco dias para desocupar o estabelecimento.

Foto: Itawi Albuquerque/Secom Maceió

Problema crescente

Esse caso não é isolado. Nos últimos anos, vários estados do litoral brasileiro foram afetados pelo avanço do mar e pelas mudanças de posição dos ventos. O resultado a longo prazo pode gerar o desaparecimento de muitas localidades. Com isso, o sonho de morar em frente à praia pode se tornar um pesadelo.

Em Maceió, as praias de Jatíuca, Ponta Verde e Jacarecica já registraram crateras em seus calçadões, resultado da erosão. O litoral alagoano, bem como toda a região nordestina é bastante suscetível e vulnerável a processos erosivos. Segundo Ricardo César, diretor do Gerenciamento Costeiro do IMA, a erosão na costa alagoana sempre existiu devido aos fatores naturais. Porém, esse fenômeno tem se agravado devido às mudanças climáticas que acarreta elevação do nível dos oceanos.

“Outro fator que acontece em nosso estado é a grande ocupação da população construindo e morando na zona costeira, fazendo com que o mar não possa se expandir e por consequência aumenta a erosão nesses locais”, explica o diretor da Gerco.

Em entrevista exclusiva ao Painel Urbano em junho deste ano, o mestre em Oceanografia Biológica e professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Gabriel Louis Le Campion afirmou que “o mar está avançando com velocidade por uma série de fatores que vão desde o aumento da velocidade dos ventos, que influi nas chamadas marés meteorológicas, até o desmatamento da floresta Atlântica. E, principalmente, da vegetação nas bacias hidrográficas e na frente de restinga com o uso indevido da faixa de domínio marinho explorada pela construção civil”.

Há mais de uma década, o pesquisador estuda os avanços do mar. Para Le Campion, antes da construção de qualquer empreendimento, é fundamental avaliar o comportamento da natureza no lugar e seguir algumas recomendações. Além disso, o especialista alerta para o respeito à distância mínima de construção. “A região de domínio marinho pode variar de acordo com o tipo de praia e a presença nas proximidades de rios, riachos etc. É preciso consultar especialistas”, afirma ele.

De acordo com o especialista, sem o respeito às normas técnicas e ambientais, ao morar em um apartamento beira-mar ou pé na areia, “é provável que o proprietário do imóvel possa correr um risco maior de perdê-lo ao longo do tempo, pois existe muita imprevisibilidade nesse tipo de fenômeno”, destaca.

A entrevista exclusiva completa está disponível no Painel Urbano, clicando aqui.